sábado, 2 de julho de 2011

Formigamento de espiritualidade

Esses dias, numa reunião de negócios, um executivo muito experiente, dono de uma empresa com a qual a Eagle está fazendo parceria, se referiu ao desejo intenso de se fazer um empreendimento como um "formigamento". Eu achei muito interessante o termo que ele usou para se referir ao modelo de parceria que estávamos estabelecendo entre as duas empresas, cada uma caminhando na sua especialização para satisfazer o seus formigamentos particulares. Isto é sensacional.

Depois disso fiquei me perguntando se é por isso que várias pessoas tem de mim uma noção equivocada, de que sou agitada. Na verdade sou muito serena e tranquila. Contemplativa, quase franciscana. Mas sou formigada constantemente por um entusiasmo que não me larga. Sinto entusiasmo em praticamente qualquer atividade na qual coloco a mão para realizar. Esse formigamento me leva a fazer muitas coisas, às vezes ao mesmo tempo, segundo alguns, é porque sou capricorniana, e dizem os experts no assunto, que capricornianos são muito disciplinados e cumpridores de suas tarefas, mas são meio pessimistas, aí acho que tenho uma dissonância, porque sou uma crente incurável na esperança e na boa fé das pessoas. Vez ou outra levo na cabeça por ter boa fé em gente que não merece, mas não consigo perder a esperança.

Agitação para mim é sinal de ansiedade, não sou ansiosa e quando percebo que estou ficando, mudo imediatamente a direção das minhas ações. Depois dos 40 eu decidi levar a vida com leveza, a máxima leveza que me fosse possível. Não sofro de gastrite muito menos de insônia. Tenho um biorritmo noturno, mas durmo minhas sagradas 8 horas por noite, salvo ocasiões especiais nas quais preciso dar conta de uma tarefa mais árdua que exige um período mais longo de concentração sem interrupções, aí trabalho até o dia clarear, sem sentir. Isso me leva, com muita facilidade ao ativismo, então como já sei dessa tendência, freio este processo sempre que ele tenta assumir controle da minha vida.

Pondero bastante antes de tomar decisões, me cerco de gente mais experiente que eu para me ajudar a decidir, mas não sou indecisa nem morosa, cumpro cronogramas de forma relativamente rigorosa, relativamente porque já faz tempo deixei de me consumir por conta disso. Eu controlo meus compromissos mas eles não me controlam.

Nesta mesma semana, numa conversa com meu coordenador, após mais um dia letivo na universidade,  começamos a refletir sobre o tipo de relação que temos, nós e nossos conhecidos  com nosso trabalho e porque há tarefas e situações que se tornam altamente desgastantes para nós, e algumas vezes, intransponíveis.  Há pessoas que, apesar de velhas ainda não aprenderam a estabelecer, com o seu trabalho, uma relação diferente daquela que se assemelha a uma obrigação, algo que só se faz mesmo  porque se é obrigado. Que triste!

O trabalho é algo tão maravilhoso, o realizar coisas, o poder criar, executar, se orgulhar do que fez, pelo simples prazer de ter feito... Honestamente, eu tenho dificuldade de lidar com meu trabalho como algo ruim e pesaroso. Qualquer que seja ele. Não sei porque nunca, desde criança, consegui encarar trabalho como algo desagradável. Tenho que concordar que determinadas tarefas são enjoadas e até bastante desprazerosas, principalmente porque elas não nos dão a sensação de termos realizado alguma coisa, de estarmos desperdiçando tempo e energia (isso é algo que realmente me deixa passada!) ou porque temos de realizá-las de dentro do furacão ou de uma zona de conflito, mas a maioria dos nossos afazeres não pode ser encarada desta forma. Tenho que concordar com uma frase que atribuem a Confúcio, mas não tenho como garantir que a fonte é essa, quando disse: "mostre-me um homem que ama o que faz e te mostrarei alguém que nunca precisou trabalhar".

Como você tem lidado com seu trabalho? Ele ainda lhe causa aquele formigamento de entusiasmo? Você acorda pela manhã elétrico para fechar aquele negócio, ou para fazer o contato com aquele parceiro, ou simplesmente para estar num seminário, assistindo palestra e fazendo contatos, networking, conhecendo gente nova que, cedo ou tarde poderá se unir a você num novo empreendimento?

Se o seu trabalho já deixou de formigar seu entusiasmo há tempos, me parece que há alguma disparidade entre o que você está fazendo e o que desejaria fazer.Significa que seu espírito está sendo molestado pela atividade, pela profissão, isso vai acabar te matando.  É hora de mudar o rumo da carreira profissional. Falo isso a partir de uma experiência muito recente que vivi, depois de me dedicar por 15 anos a uma atividade específica (dentro do aspecto mais amplo da minha profissão), o rumo que as coisas foram tomando conseguiu apagar toda a chama interior que eu possuía para realizar aquela atividade. Foi-se a alegria e o entusiasmo, o formigamento cessou e se transformou em tristeza e pesar. Era hora de mudar o rumo. E foi o que eu fiz, e estou feliz novamente.

Dizem alguns especialistas, que a motivação nunca está do lado de fora, está sempre do lado de dentro. Se não há desejo, vontade formigando dentro do nosso espírito, não há palestra motivacional que levante você de sua cadeira. Tem que haver uma chama lá dentro, que queima e incendeia sua vida, que te dá razão de existir. Eu chamo esta chama de espiritualidade. É a relação que seu espírito desenvolveu com aquilo que dá sentido à sua existência e que te move para frente, para cima, sempre avante, sem desistir, nunca.

Eu sentei aqui para teclar dois poemas que escrevi na semana passada e ainda não tinha tido oportunidade de postá-los no meu outro blog "Relendo a Bíblia". De repente me vi escrevendo um texto para cá, para o Espiritualidade Organizacional. Então vou concluir aqui e depois posto os poemas no outro blog.

Que tal usar este fim de semana para um tempo de contemplação? De contato com a natureza, com o Criador, cultivando sua espiritualidade, buscando dentro de você aquela chama que parecia estar extinta... 

Tente! É maravilhoso. Tenho sido tão abençoada por momentos de contemplação que passei a fazer estes momentos com uma frequência regular e agendada. É algo que oxigena minhas ideias, minha razão de existir e que me dá forças para continuar trabalhando todos os dias como se fosse meu primeiro dia no emprego , e ainda o fará por muito tempo.

Serenidade, leveza e saúde espiritual para você.